quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

CXLV

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passado o ocorrido fatídico e atroz com o rapaz do skate. saio do socavão que eu me refugiei da polícia - da casa abandonada. do nada, já estou deambulando de novo. sem saber o que fazer e pra onde ir. pra casa ou pro bar? eis a questão. no meio desse meu pensamento de conflito interno - não é que surge esse rapaz do skate?! e ele me reconhece de cara:
- fala tu! tu não é o cara que zuniu aquele pedregulho no carro dos polícias?
- sim. sou eu. fui eu que taquei, joguei a porcaria da pedra mesmo. porra, eles estavam te esculachando, te enquadrando, te bagunçando muito do injustamente. por isso fiz aquilo que eu devia fazer mesmo!
- po, valeu! tu é fodaço. gostei do que fez.
- só porque você é preto. se fosse um playboy branquelo, eles não iriam nem mexer contigo, nem sequer te olhar. essa merda de preconceito.
- é foda mermo!
- mas e aí, tu manda bem no skate legal?
- mando. já participei de uns três campeonatos e o caralho. fiquei em segundo lugar em um. e nos outros também consegui umas boas colocações. mas agora, eu não consigo mais participar de torneio nenhum. perdi os patrocinadores por causa de besteira. besteira total! po, mas eles também são uns hipócritas de uns caretas.
- e o que houve, então?
- po, eles me pegaram fumando um beck. noutro dia me pegaram no crack e no outro na nareba do pó. e eles cancelaram meu contrato. nada a ver! filhos-da-puta! e atualmente, para continuar me sustentando e pagando a minha faculdade de educação física, eu tenho que traficar, vender uns bagulhos pros plays viciadinhos da minha faculdade inteira. tem uma pá de neguinho lá que gosta muito! tu não tem noção, rapá.
- poizé é a vida num é...
não venham me dizer agora que os policiais tinham razão de revistá-lo, enquadrá-lo. . . eu continuo defendendo o moleque. afinal, ele não deixou de ser trabalhador. de tirar o seu dinheiro. a polícia é preconceituosa de fato. só porque o garoto é negro. tem muito branquinho que faz a mesma coisa. o que é o certo e o errado? eis a questão. eis a velha questão.

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