domingo, 16 de maio de 2010

CLXVIII

.




não teve outro jeito. não adiantou nada. eu termino a aventura noctívaga com o corpo estendido no chão defronte ao meu portão. como um notável mendigo mesmo. acho que só vou acordar se algum imbecil passar por essa calçada e chutar o meu traseiro. do contrário.

CLXVII

.



no entanto, depois da trepada que demos. zazuê começa a entrar numa nóia. eu nada compreendo. o que está havendo? o que está havendo com essa garota, com essa mulher? ela me chama de 'monstro'. 'seu monstro!'. 'você é um monstro, garoto!' 'é um monstro, homem!' por quê do monstro? depois do morzinho gostoso que nós fizemos eu não tô sacando essa... ela me diz que namora um carinha há três anos e não anda muito satisfeita com ele e aquela coisa e tal que todo-mundo já sabe de cor e salteado sobre relacionamentos minguados e morosos...
- você tem que sair daqui! chega! para, pára, meu querido - até paranóica ela possui uma certa doçura - vai embora, por favor!
- por quê?
- porque sim.
- não foi bom, não gostou? eu não sou de decepcionar mulher nenhuma.
- mas não trata-se disso, querido.
- trata-se de quê?
- eu tenho uma boa relação que já dura 3 anos.
- eu também tenho meus rolos.
- eu não queria ter feito isso com você. você é um cara muito bacana. você é ótimo.
- você também é ótima. a sua pele é maravilhosa. você é toda-boa!
- chega, vai embora! outro dia a gente se vê.
- então, a gente se vê outro dia.
- hanran.
- eu gostei muito de estar aqui. vou embora.
- me dá um beijo antes de ir.
dou o beijo.
- agora vai.
todavia, sequelado, desligado e voador. deixo a camisa, a cueca e os chinelos espalhados em sua cama. em suma, deixei meus vestígios. tomara, que ela esconda toda a prova do crime. senão dará um grande inquérito. ué, ela não tem namorado? então. é isso.
na verdade, eu odiei isso. estou cheio de sono. quase me deletando. me apagando. queria cair lá. dormir. agora tenho que ir para minha maloca. descalço. sem camisa. sem cueca. encarando o sol a pino da manhã. todos me olham como se eu fora um mendigo. entrementes, eu estou só com a aparência ressaqueada. com a cara toda amassada de quem fez muito sexo até o raiar da alvorada.

CLXVI

.



enquanto todos que aqui estão vão se arranjando em um cômodo. formam-se casais heteros. casais homos. lésbicas lindas emaranhando-se em carícias ardorosas. e bibas aboletando-se. patolando seus parceiros. já, eu e zazuê. eu e ela nos alocamos em seu quarto. sou privilegiado porque estou saindo com a dona da maloca. ela está feliz. estamos felizes. transpomos toda essa felicidade para a cama. mas também, com tanta birita e tanta maconha não como não sentir-se alegre.
- quer que eu ponha um som? - zazuê sugere.
- você que sabe...
- vou fechar as cortinas.
- então me espera que eu vou no banheiro rapidinho.
dirijo-me ao banheiro. faço um aquecimento básico. retorno.
- olha. arrumei a cama aqui no chão bonitinha pra nós dois, meu querido. gostou? gostou?
- bastante! bastante!
- quer beber um vinho antes? ou fumar um cigarrinho? qual cigarrinho você quer fumar? o artesanal ou fabril?
- se quiser fumar, eu te espero - até que eu estou bem paciente - e aí vou fazendo um aquecimento básico.
- uah! esquece os cigarrinhos! o vinho e o aquecimento básico! e vamos nos pegar agora logo.
- só-se-for-agora!
- uhahuhauhauhhaa - ela ri de gargalhar.
portanto, nós estamos nos pegando pra valer até o raiar do amanhecer. eu e zazuê. zazuê e eu. sacou? morô?

sábado, 15 de maio de 2010

CLXV

.




refeito do toco, do bolo, do bola-fora que tâmara me deu. parto à caça de zazuê. se bem que eu já havia percebido um golpe de olhar de zazuê em mim. ela é esguia. assimetricamente baixa. própria pra alcançar o lugar certo, saca? ela tem a feição, o naipe de uma índia incrustada na mata amazônica. suas miudezas engrandecem a minha libido. eu me aproximo dela e gasto o português:
- zazuê.
- olá, meu querido!
- você já atuou ou atua em alguma peça?
- estreei uma há pouco tempo. mas. . . o porquê da perguntinha, muchacho?
- por nada - volto atrás - não... é porque eu tenho um texto escrito. na verdade, um dos meus absurdos doidivanos.
- adoro tudo que é doidivano, delirante, dantesco e deliciante.
- ah que ótimo!
- seu texto trata de que dialética? como são, mais ou menos, as dicções?
- não sei. não sei como explicar. só você lendo. te convido a conhecer a minha maloca também. a gente toma um beberico e aí lhe mostrarei todo o texto ao seu grosso molde.
- maravilha.
- maravilha - repeti.
o burburinho barulhento nos derredores da casa não atrapalha o nosso papo, o nosso diálogo.
- zazuê!
- fale-me!
- sabe o que eu quero agora, sabe?
- não. o quê?
- eu quero um beijo violento do teu batom violeta na minha boca.
- só-se-for-agora!
sem qualquer ora-ora. sem resquício de delonga, nos beijamos devassada e avassaladoramente. quase brutalmente. não desgarramos nossos lábios. quase nos pegamos ali mesmo na caraça de todo mundo ali presente.
o beijo violento do batom violeta - esse é exatamente o título da minha peça. e zazuê não está usando batom.

CLXIV

.



eu, por minha vez, começo a catar tâmara. ela está totalmente dispersiva. algo que me intriga, pois ela mantêm-se sempre atenta a tudo que se passa. porém, desta feita, ela se mostra abstraída. eu tento atraí-la. tento fazê-la retomar a terra. puxo o papo:
- oi, gata! - estalo os dedos diante de sua face - vamos se curtir! atente-se para a festa aqui. não era você que desejou tanto estar aqui?
- sim. é. isso.
- poizentão?!
- desculpe-me.
- nada, não foi nada. esquece, gostosura.
- ok, gostosão.
- vamos. . . quer - aliso o meu peito estufado - vamos nos 'garrar hoje, minha gostosura?
- mmmhhmmm... acho que eu vou m'embora.
- hhhiiiihhhh... já não tô entendendo mais nada! já vi que eu vou ter que agarrar outro colo quente.
- vai vai vai !
- vou! é isso que eu vou fazer agora.
- tchau!
- até outro momento.
- 'té.
- desculpe-me, tâmara.
- não precisa de desculpas.
- sim. é. isso. não há espaço para desculpas. em outro instante, eu hei de ter-te de JEITO.
e
parto
pra
outra
- ou seja -
almejo, alvejo a dona da casa, da maloca.

CLXIII

.



maloca de zazuê. todos estão aprochegados. já estão devidamente acomodados, bem refestelados. puramente desinibidos. cultivados no mais alto grau da embriaguez. todos se sentem à vontade para aprontar o que quiser. sem nenhum laivo de censura. cada um procura o olhar, a mão, as costas, as pernas, as coxas, as nádegas do outro. sem nenhum laivo de cerimônia. por enquanto não há fala. ninguém cicia uma fala se quer . . . nenhuma conversa. o negócio agora é arquitetar a formação do bonde, a formação de casais. cada um busca um canto da casa pra se catar. furunfurunfunfar.

sábado, 8 de maio de 2010

CLXII

.



acaba caba a bebida e a droga. vazio. no entanto, o cio persiste siste. vamosimbora! vamos abastecer os combustíveis. não se pode parar. não se pode parar nunca. eu sei tou sabendo. ô!
e o pessoal sai pra buscar mais mantimentos lícitos e ilícitos. dois carros avançam em disparada. a necessidade é extrema. ora se é. logo-depois, eles retornam para felicidade geral da nação. todos nós já estamos empanzinados de tanto beber, cheirar e fumar e otras cositas. mas. . . não se pode parar jamais. eu sei tou sabendo. vocês estão entendendo. ô!
com isto, nós ultrapassamos o auge da bagaceira. por mais que tentássemos encharcar mais. não agüentávamos. e aos poucos, a galera vai se dispersando, se dissolvendo, vazando. só sobram alguns loucos como eu & tâmara. e claro. o dono da casa, do terraço – o professor de teatro viado. uns foram se expandir em outros lugares, bares e outras cidades fazer mais farra e sacanagem. outros, apenas para seus respectivos lares. já, os que aqui ficaram resolveram ir para a casa de uma menina aspirante a atriz com um nome gozado e inusitado: zazuê. ela até hoje não sabe muito bem o porquê o significado desse nome apenas que seus pais ex-hippies decidiram, escolheram esse nome quando ela estava perto de completar 1 ano de idade. antes só a chamavam de pequinuxa.
- hei ei, vocês vão adorar a minha maloca. é muito bem-feitinha. tem um ambiente bem astral – zazuê nos injeta doses de empolgação.
- ótimo ótima, minha amiguíssima. – o professor viadinho esfuzia-se. todo mundo para ele é amiguíssimo. aí, não querem que eu seja homofóbico.
- parece ser 51 uma boa idéia! – eu entro na dança, na brincadeira. já tô na chuva, vou me molhar. já tô no fogo, vou me queimar – e você, tâmara, minha cândida gostosinha?
- belezurinha. ‘tamos nessa!
PRÓXIMA PARADA: MALOCA DE ZAZUÊ.

CLXI

.



todos estão atingindo o cume da chapação. inclusive, o professor diretor pseudo-dramaturgo veado. que prosseguia dando suas pintas infru-frutíferas. tudo está zoneado. cadeiras e mesas caídas e espalhadas à la vonté. de qualquer jeito-maneira.
os alunos-atores do seu curso, da sua companhia estão improvisando, mesclando cenas de vários textos, vários dramas, várias peças de todas as vertentes da dramaturgia: misturando, mixando Sófocles, Eurípedes com Ionesco e Strindberg. Balzac com Nelson Rodrigues. Shakespeare, Molière com Vianinha e Plínio Marcos. enfim, uma salada teatralizada.
eu, por minha vez, tento iniciar uma outra conversa com tâmara:
- escuta... tâmara. você continua dando expediente naquele bordel?
- o quê?
- continua dando expediente naquele bordel?
- como?
tentativa frustrada. minha fala, minha pergunta é interrompida. minha cena é roubada por esses seres estranhos e esdrúxulos.
- "Sendo o fim doce, que importa que o começo amargo fosse? "
Hamlet de Shakespeare.
- “Não convém aos deuses ter paixões de mortais.” - fala de Agave d ‘As Bacantes de Eurípedes – e continua com a cena. agora com a deixa de Dionísio – “...Zeus, meu pai, de há muito previra vossos destinos.”
- “Não está, né? Agora, olha, sua puta sem-vergonha !”... “Vai morrer morfético! Tu e essa perebenta ! Essa suadeira !”... “Será que você não é capaz de lembrar que eu venho da zona cansada pra chuchu?”
continua a encenação etiliébria de Navalha na Carne de Plínio Marcos:
- “Não vai machucar ele!”... “Não estou gostando dessa zorra aqui dentro.”
engraçado. também não. tou odiando. é por essas & outras que há muito não vou ao teatro. ‘mamãe eu quero’ tâmara eu vou meter o pé daqui! tou nauseado. a onda tá indo. eu não consegui nem formular a minha pergunta à tâmara que é deveras demasiado importante para mim. porém, ela:
- fica mais um bocadinho, meu grandioso!
- tá bem, eu fico.
pedindo assim com esse suave desvelo, ternura aliada a malícia. eu digo ao povo que fico sim, dom! só mais um pouco. . . prometo. meto.

CLX

.



- meu dengo, você está mal-humorado? não está afim de curtir aqui? senão. . . .
- não, não é isso, bela tâmara. é este teu amiguinho veadinho. estava enchendo as bolas do meu saco. sorte. ainda bem que ele deu no pé daqui.
- haaah tá bom.
- vamos cervejar?
- claro, com cerveja e certeza.
- hahahá. exatamente.
- mas não quer conhecer todo-mundo? não quer conhecer a galera?
- não, não. tô legal de galera. vamo ficar por aqui mesmo brejando, minha gostosa.
- nós dois vamos parecer antipáticos. anti-sociais. nós dois vamos ficar destacados, isolados num canto bem afastados.
- eu muito aprecio estar destacado, isolado num canto bem afastado – respondo.
- por que você é tão assim?
- não sei. é de família.
- mentira. a sua família não é assim! eu conheço a sua família e a sua família não aparenta ser assim.
- deixa minha família pras cucuias! tudo que eu menos quero neste comenos é falar da minha – dou uns arrotos – divina família.
- háh, porquinho!
- minha limpinha, eu te mamo tanto. uiaohiuhauahaiohauhauhaaahuahuihaaauhuahaaaaaaaaaaaaa...........

CLIX

.



aterrissamos na referida festa. uma festinha normal como qualquer outra: bebidas – muitas bebidas, drogas – muitas drogas, gentes – malucas e estranhas e esquisitas. mas, sem comidas, petiscos e demais acepipes para afugentar a larica. todavia, isso não é necessário, não faz falta. todos estão apenas querendo beber e gastar a idéia. agitar. docinhos. hahahá. glicose. porra nenhuma! cirrose circulando na veia.
o dono da casa. ou melhor, do terraço é o professor do curso de teatro: um veadinho expansivo e falante que já se aproxima de nós dois dando pintas e pintas:
- oooolá, tammy! que bom que você veio! a festa está uma uva! estávamos esperando ansiosos por você – o professor veadinho dirige o olhar pra mim falando com tâmara – quem é esse bofão que está te acompanhando, minha amiga? que formosura de mulato! uiúi! fiu-fiu pra ele, amiguíssima!
- mulato é o caralho, seu veado! me dá logo uma brêja. anda! o que espera, viadinho?
- nóóósssaaaa... que rústico ele é, hem!!!
- sou rústico mesmo, merda! todo homem deve ter o F³ no nível avançado.
- o que é isso, meu belo rústico?
- "todo homem deve ser feio forte e formal."
- hehehê
- vá buscar a brêja logo para nós dois. estamos secos, porra!
- pare de xingar. você só sabe xingar – tâmara me increpa.
- não. sei beber, fuder e escrever um pouco – quando me dá na telha – respondo.

CLVIII

.



100% mulato e peladão. encaro de frente o meu portão. doidão. trotando, troteando tonto da silva santos ferreira. cavalo manco de tanto botecar por aí. não consigo cruzar a faixa final. visto a minha roupa. penso em cair na calçada e dar uma esticada aqui mesmo em frente a minha casa à exaustão de chapação por motivo de força maior. até que...
de repente...
surge tâmara. vindo de uma espécie de pré-noitada. achega-se perto de mim, linda, maravilhosa e sorrateira. me convida para prosseguir, prolongar a cachaceira numa festa de amigos que ela conheceu num curso de teatro. ela me conta sobre o pessoal. parece ser uma galera bem incomum, descontraída e divertida. não presto atenção em quase nada do que tâmara me diz: apenas que é uma galera bem incomum, descontraída e divertida. “interessante como elefante na savana africana” – pensei mudo, debochado.
- então, meu dengo, vamolá!? vamos farrear mais?! você vai conhecer e gostar bastante da galera. são legais demais! vamovamo!?
respondo em afirmativo gesticulando com a cabeça. não quero falar. ou não consigo. falar. só. be.ber.

CLVII

.



assim caminho deslocado, tresloucado, transloucado. um depravado com todas as convicções do mundo para ter orgulho do que faço e do que deixo de fazer para ser o melhor e o pior em tudo. concomitantemente.
caminho. não! quero ficar nu, sim! arranco a roupa possuído e com ímpetos agressivos como se fora o incrível hulk em processo de mutação.
eeeeehhhh êêêêêêê a onda tá batendo mesmo bonito, cumpade! o processo é rápido como vento e a minha mente tá garoando. . . sinto-me desanuviado por completo. it’s ok, man. that’s great! gracias a la vida.