domingo, 27 de dezembro de 2009

CIII

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chego ao posto. dirijo-me ao balcão. faço o meu pedido. primeiro cumprimento educadamente:
- boa noite! tudo bom?
- bom dia, né. já está quase amanhecendo. . .
- é verdade.
- o que deseja?
- quanto é essa cerveja?
aponto o dedo indicador para a bebida.
- R$1,50. vai querer, amigão?
- sim, quero. vou querer umas seis cervas dessa, irmão!
- ok.
- tá aqui o dinheiro.
- toma seu troco. quer um saco plástico para carregar as cervejas?
- sim, obrigado. tenha um bom dia!
- e você uma boa boemia!
- he he he he...
gostei desse voto.

CII

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um ralo
um halo
de pó
e cacos
pelo rés do asfalto
sobra sombria
ébria de silêncio e visão

não sei se fico
fito falo
ou espero desembaçar
esse breu nos meus olhos
que me cega
enquanto sigo contramão

derreado mandrião
ingênuo gênio
que procura são só
solto
a verdade em vão

nenhuma vivalma salva na rua
em plena noite de verão.

CI

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aqui, eu vou cadenciando no meu passo seguindo em direção ao posto 24 horas. nenhuma viva-alma no caminho. eu e o nada. fiel parceria. silêncio e tranqüilidade. e a minha vontade de me entorpecer, me dopar pra ser curado das angústias do ramerrão da vida.

C

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enquanto isso. . .
a chapa esquenta na cama do meu quarto. o malandro mulato e a segunda gostosona se juntam se untam se lambuzam e abusam fazendo algazarra com muita fodelança num frenesi fremente do arrastar da cama e do tremer das quatro paredes do meu antro particular.
- me come, me come com toda a força que você possui! - a segunda melindrosa gostosona enfatiza.
- lá vai! um golpe fulminante de pirocada na tua xoxota! – o malandro interpõe.
- mete esse pau achocolatado na minha buça rosada, vai, vai, vai!!!
- eita! que delicioso, e vamosimbora!! hehehehehe. . .
- vou te fazer esporrar todo o líquido espermático que você contém...
- e vou fazer o seu clitóris esguichar de prazer, gostosuda...
- ai que amor!
- que tesão! vou fuder com você até depois de depois de amanhã. . . . . .
- então não pára de me enrabar, meu mulato!
- prepare-se para beber, engolir o meu gozo. hhahahahahahaha!!!!!!
- aaaaaaiiiiii....... engoli tudinho, tomei tudinho, papai!
- tomou mesmo? deix’eu ver se tomou mesmo? abra a boca, feche os olhos e diga: AH!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!
- rsrsrrsrsrs.... que beleza, tomou tudinho mesmo, que bom! vai fazer bem pra sua garganta. nunca vais ficar gripada. e faz bem pra pele também e pras raízes capilares.
- opa! qu’ótimo! então eu vou beber esmegma sempre que puder.
- isso mesmo, boa menina!
- hihihihihihuiiuuhuhuhhihihhiii.

XCVIX

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ficamos eu e a primeira melindrosa gostosa e ainda bebericando as respectivas cervejas. não trocamos nenhum miúdo de palavra. tontos, quedamos no sofá zonzos. nossos olhos zigue-zagueavam dispersos em derredor da sala. por via disso, eu percebi o clima e liguei o rádio numa estação qualquer. nem sei que música está tocando... acho que é uma balada cantada pelo Tim Maia. ah sei lá! arrombo o silêncio e pergunto algo para a primeira melindrosa:
- quer beber mais uma cerva?
- . . . . . . . .. . . . .. . . . .. . . . .
ela não me responde. pois está embriagadíssima.
tento novamente.
- ei, ei, quer beber mais uma cerva?
- quero, quero. . . ô não! quero, quero, quero!. . . não, não, quero sim... não não. . .
já quase perdendo o controle da paciência.
- ô, você quer ou não quer beber mais uma!!??
- ai ai não, sim, sim, não, não. . . . . . ....... eu quero me deitar e dormir!!! por hoje é só isso! c’est fini.
- nem transar você quer?
- não. há não ser que você queira meter numa cadáver. . . huehuehueuheuheuhe... aprecias um sexo mórbido? huahahhahaihahuahahahuauhaha...
- ahhahahahaha... porra! então tá, pode dormir. eu sou um cavalheiro, não vou meter em você enquanto tiras uma pestana. pode dormir sossegada.
- ai, ótimo! até amanhã. fui... aaaauuunnnn... – e ela apaga no sono.
“não importa! perdi uma trepada. mas não perdi a noite, vou sair e comprar umas latinhas de brejas para beber sozinho. que bom!”
recruzei o portão da minha casa rumo ao posto 24 horas de gasolina e destilados do álcool.

XCVIII

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cruzamos o portão da minha maloca. quase gritando falando numa altura que daria para acordar toda a vizinhança. bem bêbedos. e não pretendemos parar de entornar!
vasculho a geladeira exasperado. encontro, por deveras sorte, quatro long necks de cerveja brahma. certinho. na conta. bela exatidão matemática! e a visita feliz agradece a nobre recepção.
bem bêbedos já não conseguíamos nos comunicar devidamente. sim, estamos pra lá de bangladesh! mas uma coisa é fato concreto e consumado: os quatro querem gozar de alguma forma maneira e jeito. . . requebrar no ritmo do remelexo do sexo.
- vamos tran... trepar logo, meu malandro, meu mulato? – a segunda melindrosa gostosa II se assanha.
- de quatro, minha gata?
- concer. . . é claro, meu mulato!
- demorou!
- hheehehehuihiueeuhiuhiuhuhhuuu, mulatão!!!
- então, hei, mano! onde é que é o seu quarto, cumpade? - o malandro mulato interpela-me.
- (e eu respondo) é logo ali à esquerda! fiquem à vontade.
- obrigado.
- obrigada.
enfim, uma foda já está sendo arquitetada e configurada. uma parte da missão está sendo cumprida. acho que estou sendo um ótimo cicerone para com os meus hóspedes-visitantes.

XCVII

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contudo, devido ao meu anseio sequioso de escrever neste comenos que me surge urge um prólogo de um poema.

depois de tudo vem o vazio.
a cama a casa
a náusea o vômito
a verdade e a vida.
isso tudo eu abandono
agora.


entrementes, todos estavam gastando toda a cachaceira falando, urrando, berrando pelo caminho. rindo de qualquer assunto, uma falação de besteiras sem-fim. portanto, eu, só necessito de uma boa bebida, uma foda anti-monotonia e terminar de escrever esse poema. porque escrever é mó viagem. me leva longe da ilusão mesmo estando nela. e quem é que não necessita de ilusões? os que responderem não, são uns filhos-da-puta hipócritas!

domingo, 20 de dezembro de 2009

XCVI

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- mas então, vamos beber a derradeira? já não agüento mais beber... – a gostosa melindrosa I ressalva – só foder!
- eu quero beber e foder concomitantemente! - o malandro mulato entoa.
- já eu quero beber, foder e escrever. – eu idealizo.
- você escreve? – a gostosa melindrosa II me pergunta.
- escrevo.
- sobre o quê você escreve, bonitão?
- sobre deuses, devaneios e mentiras.
- ÃÃÃÃÃHHHNNNN. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
saímos do bar já quase fechando. quase no alvorecer da manhã. e os ventos do norte nos soprando para minha casa. espero que tenha alguma cerveja. um bom anfitrião, um bom cicerone sempre oferece uma boa bebida para os seus convidados para causar boa impressão. é a “regra básica n°1” de etiqueta de honoráveis pinguços. lembro do início de uma letra de rock’n roll dos anos 80 no caminho para minha casa:
“mais uma dose?/é claro que tô afim/a noite nunca tem fim/por que que a gente é assim?...”

XCV

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- poisentão, vocês querem trefuder bem hoje? - o mulato interpela-as.
- vamo vamo vamo armar um bacanal legal!!??? - eu me empolgo com a idéia.
- primeiro vamos beber bem, tah!? – a melindrosa I responde.
- é. – a melindrosa II responde monossilabicamente.
- se bem que esse caracu que eu tô tomando já tá me deixando de pau duro! - o malandro salienta.
- e e e então eu vou tomar esse troço também! – eu me empolgando mais uma vez.

XCIV

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estamos cercados por um invólucro de bêbados. estrépitos, alaridos de cadeiras e mesas se arrastando. sonidos de copos batendo na mesa se quebrando – descuido muito comum entre bêbados embriagados que já estão atravessados no ponto culminante do entorpecimento etílico.
continuamos, prosseguimos em conversas frugais, banais e sexuais. no entanto, quando íamos para o último item a conversa me atraía mais.
- já deu essa xota hoje? – a gostosa I questiona a gostosa II.
- ainda não.
- ela deve de tá coçando então?
- ela tá suada. transpirando muito. e olha que eu tô de saia hein!
- eu acho que hoje eu vou fazer doce, não vou facilitar pra homem nenhum!
- por quê?
- ah porque eu quero fazer um charme. chega um pouco de me oferecer assim de bandeja pra esses safardanas!
- ah já eu não.. . eu vou logo caçar um macho logo pra garantir essa noite mais-ou-menos.
- ‘izé, tá certa! eu vou te acompanhar nessa! se eu ficar de charminho eu vou ficar chupando dedo com água na boca. coisa que eu nunca fiz. eu sempre quando eu saio pra pista arrumo um beijo na boca no mínimo. no zero eu nunca fiquei mesmo, amiga.
- essa parada. ..
as duas estão doidas pra dar.
será que vai rolar?

XCIII

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minutos depois.

ô menina
tirou sua carteira de identidade amarela
para trabalhar na casa da luz vermelha...

- ‘que música é essa que você está cantando?’ – interpela a melindrosa gostosa primeira.
- ‘deixa. ele já deve de estar viajando. . .’ - ressalto.
- ‘é um começo de um novo samba que eu tô elaborando.’
- ‘mas por que ela tirou uma carteira de identidade para trabalhar num puteiro? e ainda por cima amarela?’ – indaga a melindrosa gostosa segunda.
- ‘acho que posso responder a sua pergunta, minha criança...’ – ressalvo – ‘na Rússia antes da Revolução de 17, as prostitutas eram obrigadas a tirarem carteiras de identidade amarela para trabalharem no ramo do amor s/a nos lupanares do país.’
- ‘aaaahhnnnn. . .’ – a melindrosa gostosa segunda II interjeita.
- ‘é isso mesmo! aí, leste também Crime e Castigo do cumpadre Dostô?’
- ‘li. há um bom tempo quando eu era moleque. enquanto os moleques da minha idade gastavam o dinheiro de suas mesadas comprando a revista playboy, eu, por minha vez, comprava livros de caras geniais como esse que escancaravam as portas da minha percepção.’
- ‘... maneiro . . . mano!!!’
- ‘hei! agora sou eu que digo: parem de viajar na maria-mole e concentrem-se somente na bagaceira da bebedeira!’ – a melindrosa gostosa primeira I trocista inverte a situação.

XCII

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- ahauoihhaohhuaihauhaiuuahouiauhuahuaoihihauhauaohaouiahuahouiahiohiahahiahoahaaahoiaiaiaahaiohaiohaoiahiauhaahauiohaioahahioauahuaioaahaiaahioahauhaioahahuahuahaoihaiuahuiahuaihauhaouiaiuahauhaohiahoauihaiuahoiuahuhiuaooaihauiaahuhaoiuahiuahiuauahuoihaoauhaihoihaiohaouiahoiahoaiuhauaoiahuoiahoauihauoihaoihaoihaoiuaha
- ‘tá rindo de quê? de uma piada?’ – o mulato malandro interpela a primeira gostosa melindrosa – ‘nem começou a beber devidamente e já tá viajando no aipim legal. . .’
- ahauoihhaohhuaihauhaiuuahouiauhuahuaoihihauhauaohaouiahuahouiahiohiahahiahoahaaahoiaiaiaahaiohaiohaoiahiauhaahauiohaioahahioauahuaioaahaiaahioahauhaioahahuahuahaoihaiuahuiahuaihauhaouiaiuahauhaohiahoauihaiuahoiuahuhiuaooaihauiaahuhaoiuahiuahiuauahuoihaoauhaihoihaiohaouiahoiahoaiuhauaoiahuoiahoauihauoihaoihaoihaoiuaha
- ‘o que foi? me diz o que tanto que você ri feito uma hiena cagada???’
- ‘heheuhee. . . ela já tá bem chapadinha. suponho que não sabe beber direito só porra que ela sabe beber e direitinho...’ – sacaneando-a.
- ‘aí vai se....... te..... vai se fuder!!! ninguém te convidou pra essa conversa!’ – a primeira melindrosa me replica. – ‘vem cá! e você que bebe néctar da merda na casa da sua vó encarquilhada!’
- ‘cala a tua boca de boqueteira! senão quer que eu rasgue o que resta de cabaço do teu rabo. . .’ – respondi a altura.
- ‘o meu cuzinho já foi escavacado há um bom tempinho, meu filho! Huahauuahoihauhaiohaahuaihahaiahahaiuoahahaiuhaohouihauahuihuaaihaiuhauihauihiahauahauiohaiohaioahioahioauhuaahaaiihaoa....................... foi na roça perdeu a carroça!!!’
- ‘poizé, malandro, tu perdeste a retórica dessa vez.’ – o mulato malandro salienta. – ‘e, vamos voltar a nos concentrar na bebedeira que é bem melhor.’

XCI

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aportamos num bar minúsculo e enfurnado de bebedébrios gesticulando e falando muito alto num entra-e-sai de gentes cambaleando entre si. porém, todos mui contentes por estar ali. assim, chegamos esfuziantes para somar com aquela alegre energia que pairava naquele ar abafado de bafos encachaçantes.
não conseguimos achar uma cadeira e nenhuma mesa que estivessem de sobra. por conta disto, a primeira melindrosa reclama:
- ‘será que vamos ter que ficar em pé mesmo?’
- ‘e o que que tem, pô!!’ – o malandro mulato retruca.
- ‘ora, eu também tô pouco ligando pra isso!’ – vou no embalo da onda do malandro.
- ‘deixa de frescura, mulher! tu já esteve em espeluncas piores do que essa e nem sequer reclamaste! ficava zanzando a bunda pros machos rindo às gargalhadas bebendo no mesmo copo que eles. ‘ – a segunda melindrosa a adverte.
- ‘é, mas eram outros tempos... agora sou mais madura. eu era uma mocinha cheia das inocências. . .’ – a primeira melindrosa replica.
- ‘parem de cochichar feito duas desocupadas comadres tagarelas e vamos cair dentro da bebedeira!’
- ‘é isso aí mesmo, malandragem!’

XC

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o malandro mulato começa a bater batucado palmas como se estivesse tocando um simulacro de pandeiro. ele assobia esboçando um samba:
‘vou puxar um samba no gogó, filha!’
‘manda aí!’ – a 2ª gostosa melindrosa manifesta-se.

caixa de marimbondo
faixa de moribundo
é luto.

coxa de galinha
roxa da vizinha
é minha.

‘pare de cantar e vamos catar um bar.’ – a primeira melindrosa gostosa cessa o samba do malandro mulato.
‘gostei gostei... gostei. . . hehueuhehue.’ – eu opinando quanto ao samba do mulato – ‘pois vamos simbora!’

vamo vamo sembora
ao romper da aurora
sem nenhuma demora
pela noite afora...
o mulato malandro emenda rimas de partido-alto.

então vamo, vamo agora
porque já passou da hora
eu já tô dando o fora
vocês são cheio de estória...

entrei na onda e embarquei na viagem do malandro.

‘vão parando de gracinha, seus vagabundos!’ – a primeira melindrosa irrita-se um bocado.
‘eles são maneiros... huauhahuahua. . .’ – a segunda melindrosa se adapta ao clima propiciado por mim e pelo malandro mulato.
‘não se avexe, não, belezura. nós já vamos resolver o seu problema’ – o mulato à primeira gostosa.
‘pois é, sei que você tá doido pra me comer denovo.’ – ela replica.
‘beber comer fuder e dormir devem ser os mandamentos fundamentais para a vida normal de todo o ser humano dessa humanidade.’ – filosofo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

LXXXIX

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a segunda melindrosa gostosa caminha compassadamente em minha direção. hesita em dizer alguma coisa. pára. dá um tempo. e tartamudeia:

e e e e e u u u u u. . . . .
vamos trefuder juntos!!! (o mulato sarra a segunda melindrosa.)
é uma boa idéia 51! – exclamei com deboche.
mais cachaça. . . assim eu não agüento, companheiro. [a 1ª melindrosa gostosa retruca ao meu escárnio.]
vocês, vocês, vocês, vocês, vocês! {a segunda melindrosa gostosa reboa com exaspero.}
ela está muito chapada como nós estamos. [a 1ª gostosa melindrosa explica.]
um 69 também é uma boa idéia! (o malandro mulato retoma o meu sarcasmo.)
porra! pode crê... – confirmo. pausa longa prosseguida de uma fala paulatina – sobretodavia, digo, que, o, concúbito, pode ficar, para o depois.
eh! o negócio é goró! [a 1ª melindrosa exclama.]
beleza, já é! (o malandro mulato)
beleza, já é! {a segunda melindrosa repete a fala.}
então, eu tô afim de uma branquinha – começo a dizer – e quando digo branquinha me refiro a cachaça e mulher.
pois eu estou afim de uma loirinha (o mulato malandro) e já eu, quando digo loirinha refiro-me a cerveja e mulher.
seus descarados tarados! [a 1ª melindrosa gostosa exalta-se.] vocês só pensam em mulher e futebol. . .
ah eh! {a 2ª melindrosa gostosa concorda com a primeira gostosa.}
futebol é o caralho! eu só me interesso por goró e mulher e mais nada. pra mim, ao meu modo de ver: os homens que se interessam por futebol não são homens de verdade, tradicionais. o futebol serve de estratagema para as suas frustrações enquanto homens que não dão no couro com as suas respectivas esposas, namoradas e etc e tal. e ficam perdendo tempo vidrados numa merda de tv olhando homens cheios da grana correndo atrás de um pequena esfera branca. eles poderiam muito bem levantar seus traseiros do sofá e trepar e beber e cair na gandaia! isso não é demonstração de testorena não... tem uns até que perdem dinheiro com isso, brigam na rua. se for pra brigar tem que brigar por causa de uma xereca, uma xoxota, uma xavasca que é muito melhor! – filosofo.
falou e disse tudo, chapa! (o malandro concorda veementemente comigo.)
parem! vocês estão gastando muito... [a 1ª gostosa interrompe nossa viagem.] afinal. o que nós vamos fazer então agora?
CONTINUA.

LXXXVIII

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escura esquina. olor de urina nos muros. um silêncio aparente. os deambulantes confabulam.

e aí? por que vocês estão passando por aqui? atravessando o meu caminho. . . – interpelei-os.
n...ó...s!!!??? (os três tartamudeiam. estão tartamudos porque estão embriagados vindos da esbórnia noctâmbula.)
sim! vocês, porra!!! – irrito-me.
n...ó...s!!!??? (tartamudeiam novamente. mas a segunda melindrosa gostosa nada fala.)
porra! alguém tem um cigarro!? alguém tem um cigarro!? alguém tem um cigarro!? – repito a fala porque m’encontro em estado de desespero.
fique peixe, meu chapa. . . eu vou arrumar pra você! (o mulato malandreado exclama suavemente.)
acho que eu tenho um aqui na minha bolsa. [a primeira gostosa melindrosa roda a bolsinha com o peito da mão três vezes. abre o zíper da bolsinha. vasculha bem fundo e pega um cigarro amassado.]. aqui ó! tá meio amassadinho. [ela ri numa risada bem fina.]
uah! tá ótimo! – me aliviei em-demasia – eu tava seco pra fumar. . . o vício é um sacrifício. é um martírio.
no entanto, o vício é de muita serventia no que concerne a mitigação do giro tedioso da roda da ronda cotidiano. (o malandreado mulato reflete.) é. (pausa) o rodo. (pausa). cotidiano.
pô... vocês estão satisfeitos! de cara cheia!! – entoei.
ueh... mas estamos com a barriga vazia. [a primeira melindrosa alisa a barriga do mulato todavia com gestos salientes.] entretanto. . . a mente. . .
pois eu quero beber mais e futrepar de de novo!!! (o malandro agarra e sarra com muitos indecorosos gestos a segunda melindrosa gostosa.)
venha cá! – miro o olho arregalando-o para a segunda gostosa melindrosa – e você? não vai dizer nenhuma fala??!!!

LXXXVII

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antegozo. estou chegando! me adesperem... “ô abre-alas, que eu quero passar!...” hoje é orgia à luz da lua.
“eu sou da lira não posso negar...”

LXXXVI

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noite vaga. notivago ao romper do lampejar coriscante das luzes quase meio eólicas da cidade qualquer. pra escrever. escrever crê e ver algo de quê? ah vá para puta que parir “neste inverno ou não/neste inferno...” canção marginália. eu sou aquele e aquilo. aqui aquém e ali além. vou. ‘stou.
não me negue um pouco de água que passarinho malsinado mas bem ensinado bebe e desmaia. não fuja eu não fujo do raio que me aparta me apara quando eu paro sem anteparo em esquinas escuras. todavia eu acho que tem um exu que me guia. bem dizendo: um rol de entidades rueiras. outrosim, ciganos gitanos.
antegozo.
olha o que eu estou mirando-vendo essa hora! duas melindrosas gostotosas e um malandro mulato tropicando nas pontas dos dedos do pé. boas companhias. antes mal acompanhado do que só no buraco. da fossa. me antecipo me aproximando destes guapos camaradas comancheros desta noite vaga.

LXXXV

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o mano hirsuto diambeiro inspirou-me a ser o que eu quero ser – um digno & despojado andrajoso andejo com devido brio e preparado para seguir uma outra viés de vida. pois é preciso determinação, força de coragem e dedicação para ser como ele: ver a vida de outros ângulos que não os do desenfreio, da ganância, do exibicionismo, do consumismo do ramerrão que esses seres enfadonhos conclamam e proclamam: um mundo abarrotado e abalroado de vis penas capitais metais.
eu não vou mais ao barbeiro! sei que ele não vai passar fome só por minha causa. cabelos & barbas crescerão como as raízes da terra. nem as unhas acho que eu vou cortar só aparar mas as das mãos eu vou deixar crescer um pouco só também para eu viver de violão, cachaça & poesia. tiro o meu chapéu para quem quiser pôr umas moedas senão agradeço a tenção dispensada. por mim tá tudo bem, tudo certo, tudo ok. não vou morrer por conta disso não mermão.
vagabundo também é profissão.
autônomo. é claro! sem carteira assinada. porem já trabalha aposentado.

LXXXIV

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o que eu devo atinar-me neste átimo? escrever. crê e ver. em algo de quê? escrever é expandir raciocínios impressos pelos centros dos cérebros dos leitores. eu não quero ser poeta nem profeta nem proxeneta. só imagino duas opções: voltar a ser um bebê de proveta? ou permanecer sendo um bêbedo de cara cheia? ah que se dane! às turras!
- ‘quem me descola uma seda aí?!’
quero ficar sedado sentado no sofá subsequentemente debulhado em ressacas sequiosas de mais umas dosagens de quase overdoses. pode deixar comigo que eu pinto o meu teto de preto! aproveito a eito e a ancho.

LXXXIII

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pois é, cumpade. a todo vapor barato. hidroponia é a nova sintonia. a vapor. vapor. avião. avião. solta o foguete. pipa no céu. bala no ar. bola em campo. o bagulho é insano. tráfego. a malandragem segura as pontas. êta dianho! tem treta à vista? não não não não não não. tá limpo. enrola mais uma palha. óculos negros versus olhos vermelhos. vice-versa. dão no mesmo. tá tranquilito, comanche! mão na massa. brasa que mora na fogueira do afã. tá na mesa! não vai se servir? você não sabe o que tá perdendo... o bagulho é insano. quem tem menos de trinta não vai ficar na pista! segue a trilha. sonora. da babilônia. o bagulho endoidece. entorpecente q entontorpece.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

LXXXII

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nisso, puxado pela fumaça da transeinspiração no devagar-devagarinho do leve passo meliante da malícia pilantragem principiei a compor um poema gravando somente na semente da mente se mente se mente... entretanto no entanto, de pois passei para o papel & intitulei o escrito de

poemeto transgênico

deixa regar
todas as flores e plantas
no fundo do quintal
são tantas
ervas para jugular
o mal
colhe uma
e fuma

acende a ideia
luz na mente
passa pro irmão
a alegria que se sente

é a vida se abastecendo
de fontes de energia
hidropônica.

LXXXI

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voltei calmamente com a seda no passo meliante da malícia pilantragem. o mandrião barbudo começa a preparar o artesanato transgênico – a diamba danada. ele parece um artista ou um excelente gourmet, um estiloso chef de cozinha preparando um prato delicioso de ervas sagradas.
n’entanto, ele termina o engenho verde.
- vamos rangar? ele perguntou.
- simbora! respondi instantaneamente.
- quer fazer as honras, de fumar primeiro, bicho?
- beleza.
- mano, muito bom esse hidropônico aqui, hem!...
- é sim. é transgênico? perguntei.
- é. . . e com alto nível de THC. o barbudo respondeu.
- eu nem perguntei o seu nome... qual é o seu nome? como se chama, irmão?
- pig.
- pig? por que pig? é teu apelido, né? por que te chamam de pig?
- é porque eu não sou muito afeito a banhos. e cultivo essa barba toda aqui. como você pôde notar. . .
ele tinha mesmo uma gigantesca barba que quase chegava aos joelhos.
- meu nome é pig. não gosto de tomar banho. sou um remanescente hippie da grande onda desbundada de 72. fumo desde os 11 anos e não sou viciado.
- é, isso aaaaêêêê, bicho!. . .
- tá bem apertado mesmo esse charuto!?
- tá mesmo. . .!
- quer matar? tá na ponta do arremate...
- não, já tô bem legal já. tô satisfeito. tranquilinho, na boa. fluindo, fluindo, fluindo, fluindo, fluindo.......... . . . . . . . . . .

LXXX

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não consigo ficar enjaulado em casa. saio ao sol escaldante da tarde. dou meus bordejos pelas ruas deste pequenez bairro. os bares estão cheio de pinguços desocupados, desempregados, vagabundos. em plena quarta-feira, todos estão enchendo a cara enfiando o pé na cana. Vistalegre é a Bahia carioca. tudo é azo de festa. a vadiagem é o carma a sina que persegue cada alameda, cada esquina, cada beco deste bairro.
eu estou inserido neste contexto.
pervago, sem diretriz nenhuma. de bermuda, camisa enrolada no ombro porque faz um calor infernal e eu não visto a camisa de jeito de modo algum! queria tomar um gelo. mas estou isento de capital. estaciono numa praça que é conhecida como a Praça dos Maconheiros. bem, manos – eu quero entorpecer me entorpecer – nada mais proveitoso que filar algum charo de algum baseadeiro pra ficar numa relax hidropônica. chapadinho. . .
- diga aí, bicho! tem algum backzinho disponível pra gente? perguntei a um sujeito barbudo que estava sentado numa pequena murada contemplando o nada.
- tenho sim. vamo tapear um agora então, cumpade - ele afirmativamente correspondeu e respondeu a minha expectativa – então, vou preparar a kaya agora, mano.
- demorou, firmou. Já é! eu o incentivei no átimo.
- tem seda? ele me interpelou.
- ih. . . rapá... tenho não. – negativamente repliquei – mas vou até lá na outra ponta. tô vendo um cara acendendo uma base lá. o camarada com certeza deve ter uma seda pra nos conceder.
- beleza, arruma lá, mermão!

LXXVIX

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retomando o raciocínio sobre o paudurexistencialismo da pauduressência vitalícia. recordo-me de uma tentativa pífia de ser ator. ator não-pornô (risos). fui convidado por um amigo meu que é ator a assistir a um ensaio de uma peça. acho que era baseado num texto do Beckett. bem. . . acho... o diretor percebeu que eu estava completamente empolgado, excitado e me viu meio interagindo com toda aquela encenação teatral que estava acontecendo. no entanto, ele de-súbito me chama para participar da cena. eu, um pouco tanto sem jeito, aceitei. & embarquei naquela viagem dramática do Beckett. todavia, depois ocorreu uma cena em que todos os atores tinham que ficar nus, desnudos, pelados. todos! eu devia ter suspeitado desde o princípio. porque minha mãe uma vez havia me dito que “teatro é lugar onde todo mundo fica pelado.”
apesar em contudo, eu me despi. resolvi seguir o roteiro do negócio. & notei que todos ali estavam hiper acostumados com-a-coisa-toda. & constrangimento era algo que passava mui longe dali. mulheres, homens, não-mulheres e não-homens todos todos estavam tranqüilos & calmos sem pudor e imunes a qualquer tipo de opróbrio. extremamente a vontade, relaxadíssimos demais! com-isso o diretor me chamou a atenção sobre como me portar nesta cena de extrema naturalidade e naturismo:
- meu rapaz, você deve manter o pênis em repouso. procure manter total concentração em cena. não fique tão afoito. a ereção nessa parte não será algo apetecível. mantenha seu pênis em repouso, ouviu, rapaz?
- ham, como?
- já disse! siga à rigor o script, rapaz.
saí de fino. vesti a roupa. ele, o diretor e o elenco de atores que era enorme nem sequer perceberam a minha premente saída do palco. apenas o meu amigo que nem ligou quanto a minha retirada, pois foi o mesmo que não tivesse notado também. entretanto, eu tive um ressaibo de decepção e desapontamento. eu pensava que o que regia o teatro era a energia do pauduressencialismo da arte. isso é que dá a motivação, o gás, a alimentação exata e necessária para manifestação sublime da liberdade e da catarse que a arte, ao meu ver, dispara na mente e na alma de cada pessoa.
rererererepito: eu só me sinto útil quando estou de falo duro.

LXXVIII

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é. pela primeira que passar ao meu lado. pois não sei se eu quero me amarrar à tâmara. eu até devo ter uma paixão fumegante por ela. corrosiva eu diria. mas não me implica de estar tão entregue de sobremodo algum. o sexo é formidável e esplêndido! a companhia é agradável. contudo, tudo tem seus percalços & armadilhas. procuro me vacinar quanto a sentimentalismos bubônicos e intempestivos como a paixão, o amor e a amizade.
- corta essa! acho que eu estou sendo chato pra cacete!